Edilson Brustolon: o homem que cobra leis dos outros, mas não cumpre nenhuma
Em Estreito, todo mundo conhece Edilson Brustolon. É o blogueiro que passa o dia inteiro nas redes sociais cobrando moralidade, exigindo fiscalização e apontando o dedo para tudo o que ele julga errado na cidade. Critica a Prefeitura, denuncia o Governo do Estado, questiona obras, servidores, contratos e até o preço da merenda escolar. Nada escapa do radar de quem se autoproclama guardião da ética pública.
A fama de Edilson ultrapassou as barreiras do município. Ele chegou a aparecer em rede nacional, na TV Globo, cobrando do DNIT explicações e responsabilização pela queda da Ponte Juscelino Kubitschek, em um de seus vídeos mais compartilhados. O episódio lhe rendeu seguidores, prestígio digital e a alcunha de “cidadão vigilante”. Só esqueceram de avisar que, além de cobrar, o cidadão também precisa cumprir a lei.
Nos últimos dias, Edilson protagonizou uma cena que desmonta o personagem que ele construiu. Foi abordado pela Polícia Militar enquanto dirigia um veículo em uma blitz de rotina. Ao seu lado, um passageiro. Durante a abordagem, os policiais pediram sua CNH. Edilson então afirmou que não poderia apresentar o documento porque sua carteira estava suspensa judicialmente.
Diante da confissão, os policiais agiram dentro da legalidade: permitiram que o passageiro assumisse a direção e liberaram o veículo, por se tratar de uma infração que podia ser sanada no local conforme prevê o Código de Trânsito.Tudo indicava que, após esse episódio, Edilson adotaria uma postura mais cautelosa. Afinal, dirigir sem autorização judicial não é apenas infração administrativa, é irresponsabilidade com risco à coletividade. Mas a consciência durou pouco.
Dois dias depois, Edilson voltou às ruas. Dirigindo. Filmando. Postando. Durante o treinamento de evacuação da Usina Hidrelétrica de Estreito, quando a cidade estava repleta de pontos de controle com Polícia Militar, Guarda Civil e agentes de segurança pública, Edilson simplesmente passou pelos postos dirigindo um carro com o celular na mão, gravando a própria infração e ainda ironizando os agentes, tudo isso publicado em suas redes sociais.
Enquanto a população participava de um treinamento de emergência, ele parecia encenar uma comédia de zombaria. E não é exagero. Há o vídeo, há o carro, há a infração, e há a publicação pública do ato.
O que poucos sabem, mas o próprio Edilson confirmou aos policiais na primeira abordagem, é que sua CNH está suspensa por ordem judicial. E para quem não conhece a legislação, é importante esclarecer: a Justiça pode suspender a habilitação de qualquer pessoa que descumpra decisões ou deixe de cumprir suas obrigações legais, inclusive por dívidas. A medida é extrema, mas prevista na lei brasileira, e visa obrigar o cumprimento de obrigações que já foram ignoradas por outros meios.
E quando a CNH é suspensa, o condutor perde o direito de dirigir até que a suspensão seja encerrada. Não se trata de um detalhe técnico. É uma proibição clara, direta, de colocar as mãos no volante.
Mas Edilson parece viver num universo paralelo. Onde se pode apontar erros dos outros, mas não assumir os próprios. Onde se pode exigir rigor da polícia, da prefeitura, dos órgãos federais, mas ignorar uma decisão judicial e passear dirigindo como se fosse acima da lei.
Pior, como se fosse invisível.
A cidade viu. A polícia viu. Os vídeos estão publicados. E até agora, silêncio. Nenhuma medida pública foi anunciada. Nenhuma multa. Nenhuma responsabilização. Nenhuma reação.
Se fosse um cidadão comum, o desfecho seria o mesmo? Ou a sensação de impunidade só existe porque quem comete a infração também controla a narrativa?
Por enquanto, Edilson continua gravando, dirigindo, sorrindo para a câmera e dizendo que está fazendo tudo “pelo povo”.
Mas já está claro. Quando quem exige lei não a cumpre, o discurso perde o peso e a sociedade, a paciência.
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