A tragédia Esquecida
A tragédia esquecida da Ponte JK: vidas perdidas, promessas vazias e a negligência do DNIT
Já se passaram meses desde que a Ponte Juscelino Kubitschek, entre Estreito (MA) e Aguiarnópolis (TO), desabou, levando consigo vidas, sonhos e a segurança de uma região inteira. No dia 22 de dezembro de 2024, o colapso da estrutura causou a morte de pelo menos 13 pessoas, deixando outras desaparecidas. Caminhões carregados com produtos químicos perigosos despencaram no Rio Tocantins, levantando temores sobre impactos ambientais que ainda não foram totalmente esclarecidos.
No calor da tragédia, houve comoção, promessas e discursos inflamados. Mas, à medida que os dias passaram, as vítimas começaram a ser esquecidas, suas histórias substituídas por manchetes sobre os trâmites burocráticos de reconstrução e pela rotina fria das investigações. O que ninguém pode ignorar, no entanto, é que esse desastre não foi um acidente, mas uma tragédia anunciada, fruto da inércia e negligência do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT).
Um colapso previsto, uma tragédia ignorada
Os problemas estruturais da ponte não eram novidade. Desde 2020, relatórios internos do próprio DNIT já alertavam sobre fissuras, inclinação dos pilares e necessidade urgente de reabilitação. Mais recentemente, em maio de 2024, a promessa de uma reforma foi feita, mas nenhuma empresa se interessou pela licitação e… nada foi feito. A estrutura, que já apresentava vibrações excessivas, ficou esquecida. Até cair.
Agora, com a tragédia consumada, três servidores do DNIT foram afastados e uma investigação tenta apontar culpados. Mas será que essas medidas são suficientes? Para as famílias das vítimas, nenhuma punição trará seus entes queridos de volta. Para a população de Estreito e região, fica a revolta: por que deixaram isso acontecer?
Cidades em colapso econômico
A queda da ponte não trouxe apenas dor e indignação, mas também agravou a situação econômica da região. Estreito e Porto Franco, que já enfrentavam dificuldades, viram o comércio e o transporte serem drasticamente impactados. Antes da tragédia, a ponte era essencial para o escoamento de produtos, transporte de trabalhadores e movimentação da economia local. Agora, com a travessia interrompida, muitas empresas tiveram que se adaptar, algumas fecharam as portas e a incerteza tomou conta.
O governo estadual anunciou um pacote emergencial de medidas, incluindo transporte fluvial gratuito entre Maranhão e Tocantins e a criação de vagas temporárias de emprego. Mas para quem depende da travessia todos os dias, a vida segue difícil. Caminhoneiros enfrentam desvios longos e caros, comerciantes perdem clientes e trabalhadores gastam mais tempo e dinheiro para se deslocar.
E as vítimas? Quem ainda se lembra?
No começo, houve revolta. Protestos, manifestações e pedidos de justiça. Mas o tempo passou, e a história foi esfriando. Agora, as manchetes falam sobre a reconstrução da ponte, enquanto os rostos das vítimas desaparecem das redes sociais. A dor das famílias continua, mas a indignação coletiva parece ter se dissipado.
A questão é: o que vamos fazer para evitar que isso aconteça de novo? A reconstrução da ponte está em andamento, mas será que, quando a nova estrutura estiver de pé, tudo será esquecido? Será que os responsáveis por essa tragédia seguirão suas carreiras sem consequências? Será que outras pontes pelo país estão agora no mesmo caminho e ninguém está olhando?
Não podemos permitir que a negligência se torne rotina e que tragédias anunciadas sigam acontecendo sem que ninguém seja responsabilizado. A vida das pessoas vale mais do que relatórios engavetados e licitações que nunca saem do papel
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